quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

As algemas...

Ontem, no complexo de Maré, Rio de Janeiro, um garoto de 8 anos morre em consequência de uma bala de fuzil que atravessou sua cabeça. Segundo os familiares, o tiro foi disparado por um policial que o teria confundido com traficantes. O policial foi visto correndo segundos após o disparo. O fato de o garoto estar no topo de uma escada teria contribuído para o policial confundí-lo com um adulto. Claro que a polícia afirma que o homicídio foi resultado da "guerra entre traficantes rivais". No mesmo caderno do jornal, uma matéria relata o caso de um oficial de justiça, responsável por executar mandados de prisão, que praticara alguns atos de insubordinação e teria sido transferido para funções administrativas. O motivo da insubordinação seria a exigência de equipamentos tais como gás-de-pimenta, touca ninja, algema e colete à prova de balas para executar os mandados. Na mesma página, um colega de trabalho responsável por prender menores relata ter recebido autorização verbal de um juiz para utilizar as algemas depois de ter sido agredido por um adolecente ao executar um mandado...

Ainda não consegui me conformar com o exaustivo (e hipócrita) debate sobre a utilização de algemas na execução de mandados de prisão, encabeçado pela presidente do Supremo Tribunal de Justiça (um carinhoso presente de FHC para os seus concidadãos, que é amante do habeas corpus para correligionários e da anistia para torturadores). Não me parece ser aceitável que pelo fato de criminosos de colarinho branco serem algemados por seus crimes, esse debate venha à tona.

Não cabe.

Não em um país no qual crianças são executadas na porta de casa por balas oriundas das armas daqueles pagos supostamente para protegê-las. Não em um país em que se obtêm "autorização verbal" para usar algemas na lida com crianças e adolescentes. Não nas terras onde muitos civis morrem, em algumas situações executados, pelas mãos do poder público. Não onde as forças do Estado acreditam ter o direito à vingança e podem fazer greve carregadando fuzis.

A sensação que tenho é que alguns dos nossos magistrados vivem em um outro país...

Não seria razoável que, para começar, consigamos ao menos diminuir o número de homicídios realizados pela polícia brasileira, sejam eles de criminosos ou civis inocentes, antes de se sentir indignado pelo uso de algemas em, esses sim, seres que realmente impedem esse país de se libertar das amarras da corrupção? Cabe, em um país em que espancamentos e tortura ocorrem religiosamente madrugada a dentro pelas periferias dos grandes centros urbanos, querer regulamentar o uso das algemas nos engravatados que se colocam acima da lei? O que esperar da justiça em um país que tem como presidente da maior instância do seu poder judiciário uma figura tenebrosa com o sr, Gilmar Mendes?

Detalhe, ele é vitalício....

Um comentário:

Anônimo disse...

Primeiramente, meu amigo meu irmão lhe parabenizo pelo blog. Realmente saudosos e carentes estávamos de vossos textos. Como bem disseste, "chegou a hora de transformar pensamentos em frases". E infelizmente a sensação de que nossos magistrados vivem em outro país, paira mais do que nunca sob nossos devaneios. Já dizia a canção: "o Haiti é aqui - o Haiti não é aqui".
Abração
MM