segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O gueto de Gaza...


Trecho do artigo do professor Joseph Massad (íntegra: http://electronicintifada.net/v2/article10110.shtml)...


..."O levante dos judeus do Gueto de Varsóvia é muito lembrado pelos palestinenses. No auge da OLP como símbolo da luta de libertação dos palestinenses, a organização depôs coroas de flores no monumento ao Gueto de Varsóvia para homenagear e honrar aqueles heróis judeus.

Szmul Zygielbojm era líder do partido socialista judeu, o Bund, na Polônia e lutou na resistência contra a invasão nazista em 1939. Foi feito refém pelos nazistas, depois foi solto e tornado membro do Conselho Judeu, o judenrat, equivalente à Autoridade Colaboracionista Palestina reinventada hoje pelos israelenses, e encarregado de construir um gueto de judeus em Varsóvia. Zygielbojm resistiu à ordem dos nazistas e fugiu para a Bélgica, depois para a França, os EUA e, em 1942, chegou a Londres, onde uniu-se ao governo polonês no exílio. Dia 12 de maio de 1943, depois de saber que a resistência no Gueto de Varsóvia fora finalmente esmagada com muitos combatentes mortos, Zygielbojm abriu o gás do fogão de seu apartamento em Londres e matou-se em protesto contra a indiferença e a inação do aliados ante o sofrimento dos judeus na Europa ocupada pelos nazistas. Sentiu que não teria o direito de viver mais que seus camaradas assassinados na luta de resistência contra os nazistas.

Na carta que deixou, Zygielbojm escreveu que os nazistas são os assassinos dos judeus poloneses, tanto quanto os Aliados, assassinos, também, por inação e por omissão:

"Notícias que nos chegam da Polônia deixam claro, além de qualquer dúvida, que os alemães estão assassinando os últimos sobreviventes judeus com, com crueldade desmedida. Por trás dos muros do gueto representa-se hoje o último ato dessa tragédia.

A responsabilidade pelo crime de assassinato dos judeus poloneses é, em primeiro lugar, dos que os matam diretamente. Indiretamente, são todos culpados, toda a humanidade, todas as nações aliadas e seus governos que, até o fim, nada fizeram para impedir que esse crime se consumasse. Por assistirem passivamente ao assassinato de milhões de crianças, de homens e de mulheres indefesos, todos são cúmplices dos assassinos.

Já não posso continuar em silêncio – portanto não posso continuar vivo – enquanto prossegue aquela carnificina. Meus amigos do Gueto de Varsóvia estão caindo de armas em punho, lutando sua última batalha. Não posso estar lá, com eles, mas sou um deles e reinvindico a mesma vala comum.

Que a minha morte manifeste o mais radical protesto conta a inação do mundo que assiste e deixa que prossiga o massacre dos judeus."

A Autoridade Colaboracionista Palestina que comanda o judenrat inventado em Oslo jamais sequer tentou resistir às ordens que recebe de Israel. Nenhum dos atuais chefes renunciou ou, no mínimo, recusou-se a servir, servil. Máhmude Abbas, que tantos serviços desonrosos presta ao governo israelense, não conhece os valores de integridade e nobreza que inspiraram a luta de resistência de Zygielbojm.

Enquanto isso, os palestinenses resistem à invasão pelo exército de Israel como podem, contra inimigo astronomicamente mais forte. Os palestinenses, como, antes deles, Zygielbojm, sabem perfeitamente que Abbas, sua claque, as ditaduras árabes, os EUA e a Europa são criminosos, autores do massacre, tanto quanto o governo de Israel. Zygielbojm acusou toda a humanidade, todas as grandes potências, de inação e indiferença. No massacre da Palestina, o mundo e as potências regionais são co-conspiradores e parceiros ativos no crime.

Esmagar o Levante do Gueto de Gaza e massacrar uma população indefesa será trabalho relativamente fácil para a gigantesca máquina de matar que é Israel e para os seus políticos sádicos. Muito mais difícil será o dia seguinte, quando os palestinenses voltarão muito mais determinados a resistir e será muito mais difícil a luta, para Israel e as ditaduras árabes aliadas.

Enquanto milhares de palestinenses mortos e feridos são vítimas hoje da guerra terrorista que lhes move Israel, os reais derrotados são Abbas e sua gang de colaboracionistas. O teste radical, para a resistência palestina, é prosseguir, É continuar a negar a Israel o direito de conquistar, de ocupar, de roubar terras, de destruir o futuro dos jovens, de aprisioná-los em guetos e de matá-los de fome sem encontrar resistência.

Ao longo de quase um século, a Palestina tem resistido às atrocidades cometidas pelos sionistas israelenses, sempre empenhados em tentar apagar a Palestina da face da terra. Embora os sionistas sempre tenham procurado e recrutado colaboracionistas, desde o início, na esperança de esmagar a resistência na Palestina, ainda não conseguiram conter a resistência. Lição que os sionistas podem aprender hoje é que não são capazes de extinguir a resistência na Palestina, por mais bárbaros que sejam os massacres e as chacinas. O Levante do Gueto de Gaza será o último capítulo da luta contra o colonialismo no mundo. E marcará o fim da selvageria colonialista de Israel. Depois, então, nunca mais haverá no mundo qualquer ocupação colonial européia."

Joseph Massad é Professor Associado de Política Árabe Moderna
e História Intelectual Árabe Moderna da Columbia University, em New York.


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